Começamos esta edição com uma história inspiradora e que mostra mais um impacto positivo da bicicleta. Esse jovem que você vê pedalando nesse vídeo aí em cima é o Luca Binotto. Ele é filho da minha amiga Renata e está no espectro do transtorno autista. A mais nova conquista dele foi aprender a pedalar. Quem ensinou ele a se equilibrar sobre duas rodas foi o professor de Educação Física Mateus Oliveira, do Pedalando pela Inclusão.
Há três anos, Matheus e o professor Renato Lobo, criaram o Pedalando pela Inclusão para atender alunos com Transtorno do Espectro Autista (TEA) e Síndrome de Down que queriam aprender a andar de bicicleta, mas não tinha instrutores capacitados. Eles desenvolveram uma metodologia própria, baseada em evidências científicas, para ensinar a andar de bicicleta de forma fracionada, respeitando o tempo de aprendizagem de cada aluno. Por isso mesmo, as aulas são individuais.
Até agora, o Pedalando para Inclusão já atendeu cerca de 200 alunos. Matheus diz que todos aprenderam a pedalar. “Alguns alunos têm um pouco mais de habilidade, outros precisamos fazer algumas adaptações”, conta.
Os benefícios para os alunos são muitos. Matheus destaca os que mais observa:
• Melhora na coordenação motora;
• Aumento da concentração e foco;
• Desenvolvimento de habilidades sociais;
• Fortalecimento de vínculo familiar;
• Estímulos e senso de autonomia.
A Renata ficou surpresa com a rapidez com que o Luca aprendeu a pedalar sozinho. As aulas dele começaram em novembro. Ela lembra que na primeira vez, ele não sabia nem como subir na bicicleta. Os encontros com o Mateus foram interrompidos no período de fim de ano e férias e retomadas em janeiro. Já no início de março saiu a primeira pedalada sozinho, essa que está no vídeo.
Minha amiga buscou o Pedalando pela Inclusão para dar ao Luca mais autonomia. “Para ele poder ir e vir com mais tranquilidade. Como ele não é alfabetizado, fico com receio de não conseguir usar transporte público. A bicicleta pode fazer um pouco esse papel para poder andar pela vizinhança”.
O Luca continua fazendo aulas com o Matheus. Ele ainda não é um fanático pela bike. Segundo a Renata, ainda prefere ficar vendo vídeos. Mas qual adolescente não gosta uma tela hoje em dia, né?
Você usa bermuda de ciclista?
Se tem uma coisa que não vai estimular o Luca ou qualquer adolescente a pedalar mais, são as roupas de ciclista. A indumentária dos pedaladores sempre foi, digamos, controversa. Mas nosso correspondente na Europa, PH Alves, quer mudar essa visão:
Calçados esquisitos, meio tênis/meio sapato, com placas de metal aparafusadas nas solas e que fazem o atleta andar como um pato; meias normalmente no meio da canela; camisas justíssimas, de cores berrantes, cheias de bolsos e logotipos de empresas que ninguém conhece; e, o pior de tudo, aquela bermuda acolchoada, coladinha, moldando as bundas dos giradores de pedivela. Não é exatamente um look que os influenciadores de moda postariam em seus Instagrans bombados.
Não é a visão que vai conquistar seu cruch, principalmente se não for um pedalador ou pedaladora. Mas o que muita gente ainda não entende é que as roupas de baixo tradicionais não foram feitas para a prática do ciclismo. Os tecidos utilizados em sua fabricação e as costuras, normalmente salientes, causam atrito, fricção e assaduras na pele e criam pontos de pressão indesejados em pedaladas mais longas.
Já as bermudas acolchoadas foram pensadas exatamente para evitar estes problemas. Elas distribuem a pressão entre os ossos da bunda e ajudam a diminuir o atrito com o selim. Além disso, não possuem costuras salientes, o que aumenta muito o conforto do ciclista e ajuda a proteger a pele da região dos “países baixos”.
Vale lembrar que se o ciclismo desgasta partes bem mais resistentes do corpo como pernas e braços, imagine o que não faz com uma região supersensível e que, pelas características do esporte, fica exposta 100% do tempo ao impacto e ao atrito? No nível profissional, no qual os atletas passam quase que o dia inteiro em cima do selim, treinando ou competindo, as bermudas são quase tão importantes quanto as próprias bicicletas.
Felizmente hoje em dia, com o desenvolvimento de novos materiais e novas tecnologias de fabricação, é possível encontrar cada vez mais de opções de bermuda acolchoadas para quem quer pedalar com conforto e segurança.
Aqui por exemplo, você encontra um teste comparativo com alguns modelos disponíveis na gringa. Mas no Brasil também é possível achar boas bermudas. Marcas como Mauro Ribeiro, Flets, Curtlo (que não patrocinam a gente!), entre outras, são apenas algumas que fabricam peças com qualidade e acabamento que não ficam nada a dever a nenhum fabricante estrangeiro.
Portanto, pode-se não gostar delas e ninguém é obrigado a usá-las, mas para quem quer um pouco mais da bicicleta que buscar pão na padaria, as bermudas acolchoadas são um equipamento essencial, assim com o capacete, os óculos e as luvas.
E aí, o PH te convenceu?
Menino, vai lavar essa cara!
Não dá pra ver direito debaixo de tanta sujeira, mas esse aí na foto é o ciclista espanhol David Valero Serrano, depois de uma etapa da Cape Epic. O “Tour de France” do montainbike começou no sábado passado e vai até o próximo domingo, na África do Sul. São um prólogo e sete etapas no total, todas muito longas e com muita subida. Neste ano, o calor também se fez presente. Na etapa de quarta-feira, por exemplo, chegou perto dos 50º! O tempo seco deixou as trilhas cheias de poeira, o que diminuiu a visibilidade, causou alguns tombos e principalmente caras muito sujas no fim das etapas.
Hoje (sexta), dia de etapa rainha (aquela com maior quantidade de metros em subidas), choveu e refrescou. Só no clima, porque a disputa foi quente e dura. Depois do prólogo e cinco estágios, na elite masculina, a dupla suíça Nino Schurter e Filippo Colombo lidera, com 1m52s de vantagem. Na elite feminina, a argentina Sofia Gomez Villafane e a dinamarquesa Annika Langvad, ganharam “só” todos os dias até agora e lideram com mais de 20 minutos sobre as segundas colocadas. Detalhe: Annika estava cinco anos sem participar de qualquer competição. Acho que está sendo uma boa volta, né?
O Brasil está representado na prova por 40 ciclistas, em diversas categorias. Os destaques são a dupla master feminina Tatiana Furlan e Kellyn Cumin, que está na segunda posição na categoria; Hugo Prado Neto e João Paulo Firmino Pereira, que ocupam a quinta posição na master masculina; Pedro e Gabriela Ferolla (pai e filha), que estão na P4 nas duplas mistas. Todos os resultados são até a etapa de sexta.
Nossa lenda nacional, Rodrigo Hilbert também está (ou estava) na prova, ao lado de Luiz Perrella. Pelo site da organização, não largaram na etapa de hoje. Ainda não postaram nada no Instagram deles, então vamos esperar para saber o que aconteceu, torcendo para que estejam bem.
Quem quiser acompanhar as etapas ao vivo (na madruga!) só ir para o canal da Cape Epic no YouTube. Também tem resumos por lá para quem não quer ficar informado sem acordar cedão. Mas sempre recomendo o Bike na Lama, que está fazendo vídeos diários sobre a competição, incluindo informação sobre os pedaladores brazucas.
A bike do cara
Quem quiser conhecer melhor bike que o Nino Schurter está pedalando na África do Sul, dá uma olhada no post do blog da All Sports, loja autorizada da Scott. Quem não está familiarizado com esse tipo de máquina, já adianto aqui que tem até suspensão com inteligência artificial. O negócio é muito chique!
Não é só uma clássica, é uma monumento!
Mudando para o asfalto, acontece amanhã (sábado) a Milão-São Remo, na Itália, a primeira prova clássica da temporada (calma, já vou explicar o que é isso). O lineup está recheado de feras, sendo a maior delas o Tadej Pogacar, o cara da roda fina (ainda não de todo o sempre). Essa já disputou e ainda não venceu, o que faz dela um atrativo ainda maior.
Tem muito especialista em pedivela apostando contra ele! Isso porque o percurso não favorece muito o favorito de qualquer competição em que ele entra. São 289 quilômetros, a maior parte plano, com algumas subidas curtas e não tão íngremes (para os padrões de quem é ET). O Tadej gosta de montanha e não tem a pancada final que os caras mais musculosos conseguem dar no final.
Mas, como diriam nas histórias em quadrinhos, nosso herói ainda não se deu por vencido. O Tadej treinou com uns especialistas na prova nesta semana e todo mundo está curioso para ver o que ele vai aprontar para não deixar a decisão para o quilômetro final.
Nossa amiga lá do grupo de WhatApp, Bete Segura, que gosta de fazer uma fezinha, não teve coragem de colocar um real na vitória do Tadej. Mas apostou pesado que ele vai tornar a vida do resto da galera um inferno por muitos kms.
Ela também não quis apostar em uma vencedora para a versão feminina da prova, que acontece amanhã. Tem tanta gente boa na linha de largada e as competições das mulheres são tão imprevisíveis que fica difícil de escolher uma. O Brasil vai estar representado mais uma vez pela Tota Magalhães, da equipe Movistar.
Aliás, a Bete só apostou mesmo é que a prova feminina vai ser mais emocionante do que a masculina. Pelo histórico recente, ela está colocando suas realezas no lugar certo. Vale conferir as duas versões, que serão transmitidas pela DSports aqui no Brasil.
Então, querido pedalador, querida pedaladora, seu sábado já está cheio: começa de madrugada com a Cape Epic, segue de manhã com a Milão-São Remo e termina com aquele giro à tarde. Antes da janta você cai no sono no sofá, deixando seu companheiro ou companheira felizão!
Mas o que é uma clássica, afinal?
Então... os principais tipos de provas de bike de estrada são as por etapas (vários dias, como o Tour de France) e as clássicas, que resolvem tudo em um dia só. Mas existem clássicas que são mais clássicas que as clássicas, que são as monumento. São só 5 que recebem esse título por serem provas muito tradicionais. A Milão-São Remo, por exemplo, já está na 116ª edição. Como dizem os caras do Gregário Cycling, ganhar uma clássica não muda a vida de um cliclista, mas ganhar uma monumento muda. Eles explicam tudo direitinho aqui.
Já começamos errado!
Duas correções de informações da edição anterior:
O PH me alertou que o Mundial de Gravel não vai mais ser em Nice, que desistiu de sediar a prova. Uma nova sede ainda não foi escolhida.
Um leitor bem mais capacitado que eu, fez uma observação sobre uma brincadeira que fiz na primeira edição, dizendo que bike ocupa lugar na rua mas não paga imposto. Escreveu ele: “creio que o sujeito tinha em mente o IPVA. Imposto é receita não vinculada, ou seja, vai para o ‘caixa geral’ do estado, não tem vinculação com nada. No caso, IPVA não tem contrapartida com asfalto, estrada, rua, ou qualquer outra coisa, assim como os demais impostos.” Vamos voltar a falar sobre esse assunto mais para a frente e sem brincadeira. Obrigado pelo esclarecimento.